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Ximenes L.M.; Lira M.Z.R.F.; Braga L.A.; Barreto V.L.


         posicionada, opacidades parenquimatosas difusas, cateter   Paciente evoluiu com hipoxemia e índice de oxigenação
         venoso central à direita e sem sinais de pneumotórax (vide   compatível  com  SDRA grave  (IOX <  150),  realizado
         figura A). Entretanto, no dia 05/04/21 paciente apresentou   pronação de paciente no dia 06/04/21 às 12:30 com
         ao exame físico enfisema subcutâneo extenso em região   objetivo de promover recrutamento alveolar e de
         torácica e cervical,  realizou  exames de imagem  que   melhorar oxigenação. Infelizmente, a paciente evoluiu
         evidenciaram extenso enfisema subcutâneo e moderado   com hipoxemia refratária e veio a óbito às 4h16 do dia
         pneumomediastino (vide figuras B e C). Discutido caso   07/04/2021.
         com equipe de cirurgia torácica que optou por manter
         tratamento conservador e não realizar procedimentos   DISCUSSÃO
         invasivos, como drenagem de subcutâneo.
                                                               Dentre as complicações da COVID-19, um estudo
                                                               retrospectivo  apresentou  que  a  incidência  em  geral
                                                               de PTX foi de 1%  . De acordo com McGuinness e
                                                                                 7
                                                               colaboradores (2020), pacientes com COVID-19 e em uso
                                                               de ventilação mecânica invasiva apresentaram taxa mais
                                                               alta de barotrauma (incluindo PTX e PM) em comparação a
                                                               pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo
                                                                                                  8
                                                               e em relação a pacientes sem COVID-19  .
                                                               A paciente relatada neste artigo, além de ter feito uso
                                                               de terapias não invasivas com pressão positiva, como
                                                               VNI e Helmet, necessitou inicialmente de PEEP mais
                                                               elevada quando em VM invasiva devido à apresentação
                                                               clínica como SDRA grave. O procedimento da intubação
                                                               orotraqueal foi descrito como sem intercorrências, o que
                                                               diminui a probabilidade de lesão por trauma direto de
                                                               via aérea. A justificativa para ocorrência desse tipo de
                                                               lesão pode ter relação com estratégias de VM com maior
         Figura A: Radiografia de Tórax (04/04/21 - 13h42)1.   pressão ou volume, devido à necessidade de maiores
         Opacidades parenquimatosas; cânula endotraqueal; cateter   PEEPs para ventilação, bem como à presença de menores
         venoso central em veia subclávia direita; sem sinais de   complacências pulmonares, com origem no dano alveolar
         pneumotórax.
                                                               visto em autópsias de pacientes com COVID-19  .
                                                                                                        9
                                                               Um dos mecanismos propostos é um aumento da
                                                               pressão intratorácica, resultando em um aumento na
                                                               pressão intra-alveolar e inflação excessiva dos alvéolos
                                                               sem expansão correspondente do lúmen vascular. Isso
                                                               resulta em um gradiente de pressão que pode romper
                                                               os alvéolos marginais, levando ao vazamento de ar
                                                               para o interstício que pode rastrear ao longo da bainha
                                                               perivascular e peribrônquica para o hilo do pulmão e,
                                                               em seguida, para a baixa pressão mediastino. O segundo
                                                               mecanismo é decorrente da redução no calibre dos vasos
                                                               pulmonares, sem um correspondente para diminuição
                                                               da pressão alveolar. Esse evento aumenta o gradiente
                                                               de pressão, causando vazamento de ar para a bainha. É
                                                               importante ressaltar que os mecanismos podem ocorrer
                                                               simultaneamente em que os alvéolos apresentam distensão
                                                                                                         6
                                                               excessiva enquanto o calibre do sangue diminui  .
         Figura B: Radiografia de tórax (05/04/21 - 08h47).    Por outro lado, um estudo recente mostrou que a
         Achado de enfisema difuso das partes moles cervicotorácicas   ocorrência de pneumomediastino foi maior em pacientes
         e pneumomediastino.                                   com COVID-19,  mesmo  sem diferenças em  relação
                                                               à estratégia ventilatória, sugerindo que o mecanismo





                                                               REBRAME | REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DE EMERGÊNCIA  |  21
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