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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 02 / 12-18
da classe médica. De maneira que temos a construção da foram as máscaras o objeto de maior discussão, devido
percepção fidedigna dos profissionais de saúde que atuam a transmissão predominantemente aérea do covid-19. É
diretamente na fase inicial dos atendimentos aos casos de fundamental que os profissionais sejam treinados não só
COVID-19. Como comprovado no estudo que a maioria na colocação dos dispositivos de segurança, mas também
dos participantes (60,9%) atuam no APH fixo/móvel e sala na retirada e descarte corretos .
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de emergência dos hospitais, o que foi estabelecido como
linha de frente, junto com a atuação em UTI. A falta de equipamentos de proteção atingiu profissionais
de saúde de todo o mundo. No presente estudo, podemos
Apenas 2% dos participantes foram acima de 60 anos de afirmar que 65% dos profissionais relatam ter tido
idade, fato que pode ser justificado por vários aspectos, problemas com recebimentos de EPI nos seus locais de
como menor acesso as tecnologias digitais, menor trabalho. Dados semelhantes com os encontrados em
número de profissionais em atuação, mas também pelo registros no Reino Unido e em um inquérito entre cirurgiões
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fato da recomendação de afastamento do trabalho de brasileiros . Dessa forma, o fornecimento de EPIs para
profissionais de saúde considerados fatores de risco, de profissionais de saúde deveria ser prioridade, tendo em
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acordo com o Conselho Nacional de Saúde . Segundo o vista ser fundamental para reduzir a taxa de contágio entre
Ministério da Saúde, as pessoas consideradas de risco são: profissionais da saúde 17,18 . Observa-se, porém, que os
idosos com idade igual ou superior a 60 anos, gestantes e protocolos de segurança sanitária nem sempre são seguidos
portadores de doenças respiratórias crônicas, cardiopatias, devido à escassez generalizada de EPIs em diversas
diabetes, hipertensão ou outras afecções que deprimam o instituições de saúde do mundo, incluindo as brasileiras,
sistema imunológico. Segundo a Sociedade Brasileira de em decorrência do desabastecimento do mercado . Isso
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Pneumologia são considerados pacientes com doenças acontece porque o estoque global atual de EPI é insuficiente
respiratórias crônicas: DPOC, fibrose pulmonar ou asma, e a demanda global aumentou não apenas pelo número de
particularmente os classificados como formas graves . casos COVID-19, mas também devido à desinformação,
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compra de pânico e estocagem, o que resultou em maior
Os participantes do estudo foram principalmente do restrição de acesso por parte dos profissionais da saúde .
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estado de origem da pesquisa, o Ceará, mas o uso de uma
ferramenta de formulário digital permitiu participantes Desastres biológicos, incluindo SARS, Ebola, H1N1,
de 9 outros estados brasileiros. Naquele momento, o síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e,
estado cearense era um dos maiores em números de casos atualmente, o novo coronavírus estão profundamente
confirmados no Brasil, além de ter o maior número de associados efeitos psicológicos adversos nas equipes de
óbitos do Nordeste, o que indica um real envolvimento saúde, incluindo depressão, ansiedade e insônia . Neste
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dos profissionais de saúde participantes desta pesquisa 5,13 . estudo revelou-se que 77,7% dos profissionais de saúde
se dizem estar estressados ou nervosos durante aquele
Quando questionados sobre a segurança das orientações momento da pandemia. LAI et al., em pesquisa composta
do uso dos equipamentos de proteção individual durante por 1257 participantes, corrobora com os resultados deste
o seu exercício profissional, metade deles declarou-se não estudo, revelando que sintomas de depressão, ansiedade,
estar seguro sobre as instruções da utilização dos EPIs. insônia e angústia foram relatados por parte considerável
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Segundo uma revisão da Cochrane , os profissionais de dos profissionais da saúde e que esses sintomas são mais
saúde sentem-se inseguros quando as diretrizes locais são frequentes em enfermeiras, em mulheres e naqueles que
longas, pouco claras, ou não correspondem às diretrizes se encontram na linha de frente de combate à pandemia
nacionais ou internacionais, além do fato das mudanças dos locais mais afetados . Sabe-se, por meio de um
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constantes. De fato, por ser uma infecção nova, as diretrizes estudo prévio durante o surto de Síndrome Respiratória
e recomendações sobre o COVID-19 sofreram várias Aguda Severa (SARS), que profissionais de saúde que
mudanças em pouco espaço de tempo. Além disso, um estavam em situações de alto risco relataram mais sintomas
cenário de propagação maciça e rápida de informações psicológicos em comparação aos que não estavam . A
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foi gerada no meio técnico e científico, com diversas própria escassez de equipamentos de segurança agrava o
fontes institucionais emitindo suas recomendações, o que desgaste psicológico entre os profissionais .
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ocasionou insegurança e dificuldade de assimilação de
normas e condutas padronizadas, até mesmo a nível local. No que concerne à adequação da rede assistencial de
É de suma importância que as orientações em relação saúde e suas unidades de atendimento em um cenário
ao uso e conservação dos equipamentos de proteção de contingência, a exemplo da pandemia do Covid-19, é
individual sejam claras e de fácil entendimento por parte válido destacar que este estudo demonstrou que apenas
do profissional de saúde. Os equipamentos de proteção 11,7% dos participantes acreditam que sua principal
individual incluem máscara, capote, avental, óculos de unidade de trabalho apresenta condições de atendimento
proteção ou protetor facial, touca, propés e luvas . Mas em situações adversas de maior demanda de pacientes.
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15 | REBRAME | REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DE EMERGÊNCIA