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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE   VOLUME 02  /  12-18

         INTRODUÇÃO                                            A participação no questionário foi livre e espontânea e
                                                               todas as respostas foram anônimas.
         Os primeiros meses de 2020 foram marcados historicamente
         pela propagação da grave e aguda infecção do 2019 Novel   RESULTADOS
         Coronavírus (COVID-19), considerado uma pandemia em
         março pela Organização Mundial de Saúde . A pandemia   Foram obtidos 197 formulários por meio do questionário
                                             1,2
          revelou sérios problemas no sistema de saúde, não apenas   eletrônico, dos quais a maioria são enfermeiros, totalizando
          de países  de baixo  poder  econômico,  contribuindo   58,9%. Enquanto técnicos de enfermagem e médicos
          diretamente com as milhares de mortes alcançadas     representam 19,3% e 18,3% respectivamente. Já socorristas,
          globalmente . Em cenários de calamidade semelhantes,   fisioterapeutas e dentistas/cirurgiões bucomaxilofacial
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         estudos anteriores identificam na população em geral   juntos correspondem 3,5% dos participantes da pesquisa.
         repercussões psicológicas, tais como ansiedade, medo,   A distribuição de gênero foi de 146 mulheres e 51 homens.
         depressão, luto e estresse. Mas também a presença de um   Houve predomínio, 65,5%, de participantes da faixa etária
         senso maior de empoderamento e compaixão para com os   entre 20 e 40 anos, 32,5% entre 40 e 60 anos e apenas
         outros . O fato é que esta pandemia alcançou dimensões   2% acima de 60 anos. Os participantes residem em
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         sem precedentes nas últimas décadas.                  diversas regiões do país, mas em sua maioria no estado do
         Um desafio mundial em vários aspectos e em especial   Ceará (n=149). Outros estados foram São Paulo com 24
         para os profissionais da saúde que seguem atuando na   profissionais, 10 no Maranhão, 7 no Rio Grande do Sul,
         linha de frente da assistência desta doença nova e ainda   2 em Sergipe, e um participante de cada nos estados do
         não completamente conhecida . Problemas com escassez   Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia.
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          de equipamentos de proteção individual (EPI) surgiram   Quanto ao local de trabalho, 36,5% atuam em salas de
          praticamente em todos os países, agravando ainda mais   emergência de Unidades de Pronto Atendimento (UPA)
          uma enorme sobrecarga psicológica para os profissionais   ou hospitais, 29,4% no atendimento pré-hospitalar,
          da saúde . Outras preocupações evidentes na pandemia   enquanto que na enfermaria e unidade de terapia intensiva,
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         foram os ambientes de trabalho e a sua organização nos   respectivamente 23,9% e 15,2% (figura 1).
         serviços de saúde. Foram relatadas diversas denúncias
         de precárias condições de trabalho, higiene inadequada,
         jornadas extenuantes, falta de treinamento e escassez de
         equipamentos essenciais nos setores de emergência e
         unidades de terapia intensiva .
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         Esta pesquisa online teve como objetivo avaliar a percepção
         da pandemia do COVID-19 entre profissionais de saúde em
         aspectos gerais, profissionais e pessoais no período inicial
         de propagação da pandemia no Brasil.
                                                               Figura 1: Distribuição dos locais de trabalho.
                                                               Fonte: autoria própria.
         MÉTODOS
                                                               Destaca-se neste estudo que um pouco mais da metade
         Trata-se de uma pesquisa quantitativa e qualitativa,   dos profissionais (50,8%) não se sentiam completamente
         utilizando um questionário prospectivo realizado com o   seguros quanto às orientações sobre o uso do EPI durante
         auxílio da ferramenta Google Forms (docs.google.com/  o exercício profissional (figura 2). Além disso, observou –
         forms) e enviado por meio eletrônico (lista de emails e   se que 64% dos participantes relataram que não estavam
         grupos de WhatsApp) aos profissionais de saúde, das mais   recebendo os EPI’s necessários em seus locais de trabalho
         diversas áreas, nas primeiras semanas de abril de 2020.  (figura 3). Não foi questionado aos participantes se as
                                                               unidades de saúde eram públicas ou instituições privadas.
         O questionário continha 12 perguntas, sendo 11 objetivas e
         uma em que o participante poderia escrever seu sentimento   Quando se avalia a percepção dos profissionais de saúde
         em relação a pandemia. As perguntas abordavam sobre   em relação a capacidade de suas unidades de trabalho
         a categoria profissional, local e a região de trabalho, a   possuírem condições de responder frente a um cenário
         segurança e EPI disponíveis para o atendimento, condições   de maior contingência, 55,3% acreditam que não estão
         de trabalho, preparação e aspectos psicológicos. Os dados   preparadas, outros 33% acreditam que “sim”, estão
         obtidos foram automaticamente transferidos para planilha   preparadas, enquanto 11,7% optaram pela incerteza
         de Excel, na qual foram computados.                   respondendo a opção “talvez” (figura 4).




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